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  • 26 de out. de 2023
  • 5 min de leitura

Texto de Tuca Munhoz |

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Na quinta-feira passada, feriado de alguma coisa, vi que haveria alguns eventos e cursos na Escola São Paulo de Teatro, onde, há alguns anos, fiz um curso de Palhaço, meio sem graça.


Coloquei na minha agenda, porque se não esqueço, e no dia certo, fui até lá.


Os cursos começariam às 11 horas, e um em especial me interessou.


A Escola São Paulo de Teatro [1] fica na Praça Roosevelt, local onde, aliás, deveria constar, alguma referência à deficiência desse presidente, Franklin D. Roosevelt, 32º. presidente norte americano, que teve poliomielite. Inclusive, na AACD, Associação de Assistência à Criança com Deficiência, que frequentei por muitos anos, havia uma cadeira de rodas, de madeira, que foi utilizada por ele, e que foi doada, após sua morte, a essa instituição, por sua esposa dna. Eleanor Roosevelt, que era, também, prima do falecido.


Ao chegar à Escola, havia um bazar, com uns 20 expositores, com bancas de roupas e objetos usados, tipo hipsters. Não me agradou, e fui embora. Também porque o curso que me interessava, não era naquele horário.


Estava um dia muito bonito e caminhei, (rodei?), em direção à rua Avanhandava e lembrei-me do Museu Judaico [2], fiquei muito curioso em conhecê-lo e fui. Fica bem na esquina dessa rua com a Martinho Prado, bem em frente ao, fechado há muito, Ferro’s Bar [3], certamente o bar que mais frequentei na vida.


A reforma da antiga sinagoga, onde hoje está o Museu, demorou muito anos, e cada vez que eu passava em frente, pensava: não vejo a hora de visitar esse museu.


O grande dia chegou e lá estava eu em frente ao Museu Judaico num belo dia de sol. Nem tudo é perfeito, a entrada acessível se dá por uma plataforma elevatória.


A coisa funciona assim quando o acesso se dá por plataformas elevatórias, temos que chamar algum responsável pelo local, ou pedir que alguém o faça, quando não encontramos ninguém para gritar: ei!! Preciso usar o elevador!!


Mas, em locais judaicos, seguranças abundam, e não foi necessário gritar, bastou um sinal discreto para que um dos seguranças me atendesse prontamente.


A plataforma é de boa qualidade e funcionou direitinho, só me incomodou que o segurança foi junto, o que é estranho, dado que a plataforma é pequena, e fica um tanto apertadinho...


Na entrada há um detetor de metais, e bolsas e mochilas devem passar por ele. A moça, segurança, me perguntou se eu portava algo similar, disse que sim, mas que tanto a bolsinha lateral, quanto a mochila, estavam afixados na cadeira, e que seria difícil tirar.


Foi bem engraçado, ela deu duas voltas em torno da cadeira, me olhando de cara feia, e finalmente me liberou, não sem antes “dar um rádio” para alguém, não duvido que para o Mossad [4], (cujo lema é: “junte-se a nós para ver o invisível e fazer o impossível”).


Bem, acabei entrando por uma porta lateral, mas observei que o tempo todo havia algum segurança na “minha cola”.


O Museu é lindíssimo! Recomendo fortemente que o visitem. Um local muito agradável, as exposições, tanto a permanente, quanto a temporária são belíssimas e muito bem montadas, a edificação tem uma acessibilidade, pelo menos a arquitetônica, de boa qualidade.


Não entendo esse exagero de piso tátil, nós, cadeirantes, ficamos “trepidando” o tempo todo. Eu acho que é um modo que os não deficientes encontraram para a criação de um cisma entre cegos e cadeirantes.

Preciso conversar com algum amigo, ou amiga, cego para saber da acessibilidade comunicacional e do site.


Fui ao café, que é muito bom, e há uma “lodjinha” maravilhosa. Adoro lojinhas de museus e centros culturais.


Uma das seções, pequena, do Museu, é dedicada ao Holocausto. Cita os milhões de assassinatos perpetrados pelos nazistas, apresentando, o assassinato de judeus, obviamente, de comunistas, gays, ciganos, prostitutas etc. Mas, não cita o assassinato de cerca de 300 mil pessoas com deficiência, que foram as primeiras pessoas a serem exterminadas, servindo, com declarações explicitas do então governo nazista, que seriam as cobaias para os testes dos campos de concentração, o chamado “Programa T4” [5].


Fiz questão de deixar um pequeno texto, em caderno próprio do Museu, acerca dessa questão, e vou acompanhar, e cobrar, para que esse fato histórico, importantíssimo, seja incorporado às outras informações sobre o horror nazista.


Mas, a melhor parte foi quando, já na saída, olhando para o prédio do antigo Ferro’s Bar, me dirigi à segurança durona que me “arrodeou” na entrada.


Perguntei a ela se havia algum protocolo especial, preventivo, de segurança, em relação às pessoas em cadeiras de rodas. Um rapaz que estava ao seu lado, identificando-se como o coordenador de segurança, tomou da palavra para me explicar que não existia esse protocolo, e que ele reconhecia como um problema de difícil solução.


Eu, em outras palavras, reivindiquei a “inclusão” das pessoas com deficiência, argumentando que sim, deveríamos ser revistados com toda a seriedade e rigor tanto quanto as pessoas sem deficiência, afinal eu poderia ter uma arma na mochila, ou uma bomba no compartimento de baterias da cadeira.


Cansei de ser “café com leite”.

Ele concordou comigo, dizendo que esse problema já havia sido discutido com seus superiores, (o Mossad, certamente), e até me informou, eu ignorava isso, que houve um combatente palestino, do Hamas [6] , que era, (claro, já era), cadeirante, e que foi duro na queda, organizando diversas operações de combate em território israelense.


Conversamos longamente, inclusive ele conhece o M... outro amigo, que é segurança na Sinagoga...

Quando ainda morava e trabalhava no ABC, tive por um tempo, bastante dificuldade em entrar no Banco do Brasil da rua Sen. Flaquer, pois havia acontecido lá um caso de um cadeirante, não sei se uma pessoa com deficiência de fato, que conseguiu entrar no banco levando armas, que passou então para seus comparsas, que efetivaram o assalto, incluindo o sequestro de uma funcionária.


Até hoje, em algumas agências bancárias, o segurança apenas abre a porta, em que é possível um cadeirante entrar, após a autorização explicita de um gerente. Como eu sou um cara “de boa aparência”, nunca fui barrado, mas já tive momentos bem estressantes.


Ou seja, o problema existe, e deve ser debatido, e nós, pessoas com deficiência, em especial cadeirantes, devemos participar desse debate com maturidade e reivindicar, sim, que existam protocolos de revista e segurança. Assim como devemos também reivindicar, entre outros, protocolos de segurança e evacuação em situações de risco e emergência, que também não existem.


Há uma mensagem, implícita, que diz, caso o prédio for pegar fogo amanhã, não venha trabalhar, pois não haverá como realizar sua evacuação.


Vide: “Em caso de incêndio não use o elevador”.



Tuca Munhoz

São Paulo

Outono

2022


Tuca Munhoz é ativista pelos direitos humanos das pessoas com deficiência, gestor público, político, comunicador e escritor. “Minha história é contar histórias, inventadas, reais, vice e versa e misturadas”, diz Tuca sobre Tuca.

 
 
 

"Tem uma série de coisas que vêm à cabeça quando se pensa em acessibilidade: rampa, elevador, intérprete, sinalização… Mas essas acomodações não costumam chegar num lugar específico, e muito sensível: a cama. Não a cama em si, mas o que rola lá, se é que você me entende.


Tem uma definição do feminismo que é: “feminismo é a ideia radical de que mulheres são seres humanos”. No filme Assexybilidade, o diretor Daniel Gonçalves faz um manifesto igualmente “radical”: o de que pessoas com deficiência têm vida sexual. Neste ato, dois entrevistados do filme relembram alguns episódios de suas vidas que tinham tudo para ser corriqueiros na vida de qualquer pessoa – mas nas deles, por falta de políticas de acessibilidade, demandaram muito mais trabalho.


A Rádio Novelo é a maior produtora de podcasts com DNA jornalístico do país. Fundada em 2019, no Rio de Janeiro, é responsável por mais de 20 produções entre podcasts próprios e para clientes."


Escute abaixo este capítulo. No segundo ato, temos em evidência a temática das pessoas com deficiência.





 
 
 

Com vagas limitadas a funções específicas, PCDs lutam para que empresas compreendam que inclusão não é ato de caridade


Por Lethycia Anjos / Midiamax-UOL


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Mesmo em meio a diversidades, Lucas se tornou médico (Arquivo Pessoal)

Na jornada em busca de emprego, PCDs (Pessoas com Deficiência) enfrentam uma batalha silenciosa e muitas vezes invisível que ultrapassa as barreiras físicas e se sustentam em crenças limitadoras. Para quem possui algum tipo de deficiência, a maior dificuldade na hora de encontrar um emprego é provar ser capaz de exercer cargos para os quais se especializaram.


Médico, Lucas Guilherme Vieira Pacini, 30, é portador de Mielomeningocele, uma má formação congênita que afeta a coluna vertebral e a medula espinhal. No caso de Lucas, a doença afeta sua mobilidade do joelho para baixo, o que implicou no uso de cadeira de rodas, mas não o impediu que cursasse medicina, um dos cursos mais disputados do país.


“Fiz 13 anos de fisioterapia, me desenvolvi e me tornei independente. Antes da medicina, cursei engenharia de produção e trabalhei em uma multinacional. Porém, meu irmão teve uma piora nas condições clínicas (deficiência mental), o que me fez largar tudo, fazer cursinho e trocar de graduação aos 19 anos. Prestei vestibular e consegui a vaga em ampla concorrência”, relata.

‘É exaustivo provar o tempo todo que sou capaz’


Logo no início do curso, Lucas se deparou com a primeira barreira: a Universidade não estava preparada para receber uma pessoa com deficiência. Por isso, alguns ambientes da faculdade, assim como as aulas e provas práticas, precisaram ser adaptadas.


“O capacitismo praticado por professores foi o mais difícil. Sempre me senti olhado com um ar de dúvida quanto a minha capacidade de exercer a medicina. Alguns professores incentivavam, perguntavam as minhas necessidades. Outros simplesmente me subestimavam quase que o tempo todo”, recorda.

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Médico Lucas Pacini (Arquivo Pessoal)

Na hora de buscar um emprego, as barreiras sociais e as crenças limitantes que sempre o subjugaram fizeram com que Lucas se sentisse inseguro e omitisse sua deficiência.

“Fiz meu cadastro para a vaga como todo mundo, e em nenhum momento eu coloquei que era PCD por medo de não ser contratado. Acho que foi impactante quando eu me apresentei, mas eu nem me importei com isso e agi naturalmente”.


Mesmo após se tornar médico, ele ainda precisou lidar com o capacitismo diário por parte de chefes e colegas de trabalho. “Me olhavam como se eu fosse incapaz, é exaustiva essa tarefa de provar o tempo todo que eu sou capaz”.


‘Só nos resta o chão de fábrica’


Jornalista e ativista em prol das pessoas com deficiência, Sarah Santos explica que na hora da contratação, é comum que as empresas limitem as vagas a funções administrativas e de manutenção. Nesse contexto, segundo a jovem, raramente são ofertados cargos de chefia voltados a PCDs.

“Uma das maiores dificuldades é que PCDs com formação não encontram oportunidades. Quando abrem um processo seletivo os cargos são sempre de ‘baixo escalão’, ‘chão de fábrica’. Não que isso seja menos digno, mas a pessoa qualificada tem muita dificuldade de encontrar um emprego compatível com sua formação”, destaca.


Representante da Associação de Mulheres com Deficiência, Mirella Ballatore, ressalta que mesmo como Instituição, ainda passa por situações cotidianas de capacitismo, termo utilizado para expressar a discriminação contra pessoas com deficiência.


“Dentro da nossa Associação temos mulheres qualificadas, pós-graduadas, mas não existem oportunidades para elas. Só ofertam vagas de serviços gerais, repositor de estoque. Além da luta para se qualificar, tem a luta para conseguir um emprego pelo qual se especializou”, enfatiza.


Como alguém que lida diariamente com situações capacitistas, tanto no âmbito pessoal quanto profissional, Lucas Pacini considera que não só as empresas, mas a sociedade na totalidade não estão preparadas para lidar com pessoas com deficiência.


“Já ouvi várias vezes a ‘sugestão’ de procurar uma aposentadoria, como se fosse uma opção viável para mim. É horrível enxergar que a própria sociedade vê PCDs como incapazes, sendo melhor ‘que se aposentem por invalidez’, como muitos dizem”, destaca.


‘Inclusão só chega quando a multa bate a porta’


Para Sarah, ainda há muito para que as empresas compreendam que a inclusão não é um ato de caridade, mas sim um investimento no potencial daquele profissional.


“As empresas só se preocupam com a inclusão quando o Ministério Público bate na porta para aplicar multa. Antes disso não é algo pensado. Naturalmente, as empresas não acreditam na força de trabalho de quem possui uma deficiência”, destaca.


A legislação brasileira prevê que as proporções para empregar pessoas com deficiência variam conforme a quantidade de funcionários de cada empresa. De 100 a 200 empregados, a reserva legal é de 2%; de 201 a 500, de 3%; de 501 a 1.000, de 4%. As empresas com mais de 1.001 empregados devem reservar 5% das vagas para esse grupo.


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Associação de Mulheres com Deficiência (Divulgação)

Mirella Ballatore ressalta que mesmo quando há oferta de vagas, as empresas optam por escolher candidatos com deficiências menos ‘aparentes’, para não precisar adaptar os locais de trabalho.


“Quando as empresas procuram a Associação para auxiliar no encaminhamento de PCDs ao mercado de trabalho, elas já deixam subentendido que preferem candidatos com deficiências mínimas. Para inserir um cadeirante, a empresa precisa ser adaptada, um surdo precisa de um intérprete de Libras (Língua brasileira de sinais), mas eles não querem investir nisso”, explica.


Segundo a representante da Associação de Mulheres com Deficiência, muitas empresas buscam apenas cumprir a cota de contratação estipulada pelo governo.


Salários incompatíveis e inacessibilidade dificultam a contratação


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Atendimentos a PCDs na Funtrab (Divulgação)

Em 2023, a Funsat (Fundação Social do Trabalho) encaminhou 76 PCDs para o mercado de trabalho, sendo que, diariamente, são ofertadas cerca de 40 vagas exclusivas para pessoas com deficiência em Campo Grande.


Conforme a Fundação, o encaminhamento é feito por meio de uma convocação que filtra os candidatos de acordo com o perfil da vaga oferecida.


"As maiores dificuldades na inserção dessas pessoas no mercado de trabalho são os salários oferecidos e a falta de acessibilidade por parte das empresas", destaca a Funsat em nota.


A nível estadual, a Funtrab (Fundação do Trabalho de Mato Grosso do Sul) realiza o processo de contratação por meio do Setor de Serviço Social, especializado no atendimento a PCDs.


"Em 2022, foram abertas 14.385 vagas exclusivas para pessoas com deficiência em todo o Estado", afirma a pasta.


Criado em 2003, o Setor de Serviço Social conta com três assistentes sociais que realizam atendimentos específicos e disponibilizam em média 100 vagas diariamente. No entanto, segundo a Funtrab, há inúmeros fatores que dificultam a inserção de PCDs no mercado de trabalho, que vão desde a falta de vagas específicas até questões familiares.


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Atendimento em Libras (Divulgação)

"Há também a contenda desses candidatos receberem o Benefício de Prestação Continuada (BPC), auxílio emergencial, entre outros auxílios. Além disso, a qualificação e a capacitação profissional, questões familiares e a inacessibilidade das empresas são desafios. Às vezes, encaminhamos o perfil solicitado, mas a empresa contrata de outras fontes", destaca a pasta.


Apesar da falta de vagas específicas para PCDs com qualificação, a Funtrab afirma que, com frequência, determinadas ocupações que exigem formação técnica profissional não são preenchidas. “Mesmo veiculando a vaga na mídia, não encontramos o candidato que preencha os requisitos mínimos”.


Descumprimento à Lei de Cotas pode gerar multa de R$ 265 mil


Conforme previsto na legislação brasileira, as empresas que possuem acima de 100 funcionários, precisam cumprir a Lei de Cotas, destinando de 2 a 5% das vagas a PCDs. Segundo a Funtrab, o não cumprimento é punível com multa, que pode chegar ao valor de R$ 265 mil.


“Uma vez que é identificado que a empresa não cumpre a cota corretamente, é emitido um aviso para o cumprimento ser feito em até 90 dias. Caso não apresente avanços neste período, a empresa é autuada”, destaca a Fundação do Trabalho.


A fiscalização nas empresas é realizada por um Auditor Fiscal do Trabalho da SRTE-MS (Superintendência Regional do Trabalho e Emprego em MS).



 
 
 

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