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Atendimento domiciliar inclui e reabilita pessoas com deficiência física em vulnerabilidade

Projeto de instituição sem fins lucrativos de Campinas (SP) reúne profissionais da área da saúde e assistência social. Ações envolvem desde sessões de fisioterapia à entrega de talheres adaptados.


Por Gabriella Ramos, g1 Campinas e Região


Ao lado de Rúben Leon (camiseta cinza) está Sulvys Valera (camiseta preta). Atrás, a fisioterapeuta Caroline Bortolote e o terapeuta ocupacional Danilo de Faria Moreira. — Foto: Iago Genival dos Santos


Muitas vezes sem acesso a benefícios e tratamentos adequados, famílias de Campinas (SP) em situação de vulnerabilidade têm recorrido a atendimentos domiciliares oferecidos pela Casa da Criança Paralítica, uma instituição sem fins lucrativos, para garantir a inclusão e reabilitação de pessoas com deficiência (PCDs).


O projeto Reabilitação, Estimulação, Desenvolvimento e Inclusão (REDI), que completou um ano no dia 16 de maio, reúne assistente social, médico cirurgião, fisioterapeuta, coordenadora técnica e terapeuta ocupacional. Neste primeiro ano, foram atendidas 41 PCDs com até 50 anos de idade, residentes na região Sudoeste da cidade.


"Nós estamos falando de políticas de garantias de direito. [...] Muitas vezes entendem até que é uma caridade, não é. Dentro de tudo isso, a gente trabalha essa questão do protagonismo da família e a importância delas entenderem que é um direito, para poder, também, cobrar e melhorar cada vez mais a qualidade de vida do cuidado e do cuidador", explica a assistente social Marcia Maria de Oliveira.


Maria explica que, durante o atendimento, foram evidenciadas a carência de serviços de reabilitação física para atender os pacientes graves ou em faixa etária superior à atendida pelos serviços existentes e a dificuldade de serviços e profissionais em orientar as famílias em uma linguagem acessível, desde o diagnóstico ao acesso ao tratamento.


"São pessoas invisíveis, porque muitos nem saem de casa, muitos nem têm acesso. Nem mesmo ao Centro de Saúde. A gente acabou tirando daquele lugar e fazendo com que eles sejam enxergados. Eles são visíveis e são cidadãos com garantia de direito", destaca.


A partir de maio, o projeto passa a atender outras 40 pessoas com deficiência física na região Noroeste da metrópole, em parceria com uma fundação britânica.


Projeto foi idealizado pela Casa da Criança Paralítica (CCP) com apoio da FEAC — Foto: Johnny Inselsperger/EPTV


Autonomia


Quando saiu da Venezuela, há cerca de três anos, a cuidadora de crianças Sulvys Valera almejava uma vida melhor para os filhos, em especial para Rúben Leon, que apresenta sequela neurológica e retardo psicomotor, além de eventuais crises epiléticas causadas por uma meningite.


Com muitas esperanças e destino final incerto, Sulvys deixou o filho no país de origem e imigrou junto a duas filhas e uma irmã em busca de trabalho. Dois anos depois, a mãe pôde arcar com os custos da vinda de Rúben ao Brasil, mas encontrou no país outros desafios para enfrentar.


"Ele [Rúben] precisava de neurologista, traumatologista, odontologista, muita coisa. [...] Tinha pouco mais de cinco anos que ele não ia no hospital, eu só comprava medicação. Então eu decidi procurar outro emprego e trabalhar para ele, porque eu trouxe ele aqui para melhorar a saúde", relata.

Dividida entre dois empregos, a cuidadora foi surpreendida por representantes do projeto REDI na porta de casa. A partir desse encontro, a família recebeu orientações para fazer o Cadastro Único e, com ele, obter o Benefício de Prestação Continuada (BPC).


Além de ajudar com questões burocráticas, o projeto também possibilitou melhorias simples, mas muito importantes no dia a dia de Rúben, de 25 anos. Por conta da deficiência, o jovem tinha dificuldades para se alimentar com talheres normais, o que foi resolvido com um kit adaptado.


"Ele está tão feliz. Ele não conseguia comer direito, então comia afastado porque ele achava que incomodava as pessoas quando comia. Eles trouxeram uma colher, faca e garfo e agora ele consegue comer com isso", conta a mãe.


'Alguém que nos escute'


Josiane Carvalho é mãe da adolescente Maria Eduarda dos Santos de Carvalho, de 14 anos. Sem atendimento desde 2017, Duda, como é chamada pela família, sofria com dores intensas nas costas e dificuldade para empurrar a própria cadeira de rodas.


À espera de uma vaga para tratamento com fisioterapia na rede pública, a adolescente passou a ser atendida pelo projeto REDI com atividades como pilates, academia e informática.


"Até o RG novo dela eles fizeram, foram atrás. Então a gente tem muito carinho e gratidão por eles. O pilates e academia ajudaram muito porque já faz uns dois meses que ela não reclama de dores nas costas, deu mais força para ela empurrar a cadeira, então ela está bem melhor", conta Josiane.


Mãe da Ana Carolina Silva de Carvalho, de 15 anos, que tem paralisia cerebral, Kátia Carvalho relata que a filha fazia fisioterapia na escola, mas o tratamento foi interrompido na pandemia. Com isso, a jovem começou a desenvolver escaras.


"O projeto solicitou um colchão magnético, que foi muito bom e eu não conhecia. Esse colchão é tipo uma casca de ovo, só que ele é à base de energia. A gente põe ela e o colchão vai fazendo todos os movimentos que a pessoa com deficiência precisa. Você não precisa ficar virando, o colchão faz todo esse serviço", detalha.


O atendimento domiciliar e a proximidade com os profissionais fez com que Kátia conhecesse a fundo os direitos da pessoa com deficiência e recebesse atendimento em diversas frentes. O projeto possui parcerias com órgãos como a Defensoria Pública, o Centro de Referência da Pessoa com Deficiência e os centros de saúde.


"Eu consigo me locomover com a Ana, levar ela numa cadeira de rodas, mas tem muitas famílias que não têm esse acesso. Às vezes o que a pessoa ou o familiar quer é só alguém que nos escute, alguém que ouça, que entenda as nossas dificuldades", diz.



A adolescente Maria Eduarda, de 15 anos, junto à família — Foto: Josiane Carvalho/Arquivo pessoal


Título original da matéria: Atendimento domiciliar leva inclusão e reabilitação a pessoas com deficiência física em situação de vulnerabilidade: 'É um direito'


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